sábado, 18 de junho de 2011

A paz

Alice encontrou.
Encontrou o que estava bem ali, fazia anos.
Por que as vezes espantamos as situações sem saber o porque? Por que durante tantos anos Alice se esquivou?
Se Alice soubesse como os dois minutos de paz que tanto ansiava estavam tão perto...
Não, não era algo definitivo. Também não era um passatempo. Simplesmente era; uma sensação boa.
Não era algo que tivesse todos os dias, mas era algo que se mostrava presente o tempo todo.
A paz.
A paz a fazia rir. A paz a fazia pensar. A paz lhe contava histórias, lhe dava conselhos e Alice passou a admirar a paz.
Alice passou tanto tempo chorando, que quando a paz lhe disse: "Ei! Eu estou aqui, lembra?" Alice simplesmente foi.
A paz ficava de lá, lhe olhando, sempre. Um olhar sincero, amigo. Mas a paz as vezes era difícil de entender. Não, não era difícil: era diferente a paz! A paz ria, e as vezes era séria... passava dias sem ver Alice e quando aparecia, parece que nunca havia ido. E agora, quando a paz sumia uns dias, Alice sentia falta.
O tempo de choro e lamentação passou.
Porque Alice tinha na paz uma conselheira. Alice não prometeu nada a paz, nem a paz a ela. Mas a paz sabia que tinha Alice e Alice tinha a paz. Estavam um na vida do outro, um ombro, uma amizade boa, um olhar bom, uma sensação boa. Um olhar de compreensão, que na maioria das vezes não precisava de palavras para tradução.

Alice e a paz agora andavam bem perto uma da outra. E se Alice soubesse que era tão bom, tinha caminhado em direção a ela beeeem antes.

Bem vindo a vida de Alice.

sábado, 7 de maio de 2011

Fim, fim, feito por mim.

Lembra daquele amor agonizante?
Alice resolver matar esse amor. Não, ela não vai conseguir isso hoje, mas a decisão está tomada e é uma questão de tempo para a concretização.
Não vale a pena tanta dor...

E pra Alice, neste dia, lembrando de uma grande amiga:


"Ficou difícil
Tudo aquilo nada disso
Sobrou meu velho vício de sonhar
Pular de precipício em precipício
Ossos do ofício
Pagar pra ver o invisível e depois enxergar
Que é uma pena, mas você não vale a pena
Não vale uma fisgada dessa dor
Não cabe como rima de um poema
De tão pequeno
Mas vai e vem e envenena
E me condena ao rancor
De repente cai o nível
E eu me sinto uma imbecil
Repetindo, repetindo, repetindo
Como num disco riscado
O mesmo texto batido
Dos amantes mal amados
Dos amores mal vividos
E o terror de ser deixada
Cutucando, relembrando, reabrindo
A mesma velha ferida
E é pra não ter recaída,
Que não me deixo esquecer

Que é uma pena
Mas você não vale a pena..."

terça-feira, 3 de maio de 2011

A última refeição da condenada

E ali, dentro de sua cela particular, trancafiada, Alice aguardava.
A última refeição da condenada.
O último vinho, a última carne, a última música...
Que demorava tanto e tanto, que a angústia, embora pacificada, a corroía...
Mas, estranhamente, Alice estava quieta, calma, quase passiva.
Para alguns condenados, a hora do fim se desenhava de uma maneira sórdida, como milhões de demônios de bocas abertas, prestes a engolir a vítima, rindo, de maneira louca da desgraça do pobre coitado...
Mas para Alice esse fim se desenhava como a hora de uma paz sublime, em que anjos a levariam pelas mãos e a resgatariam de um poço sem fundo.
Alice havia pedido tanto e seu tanto era tão pouco... Alice queria amor, mas seu algoz, seu capataz a havia feito compreender, finalmente, que isso não era pra ela.
Alice não nasceu pro amor... e a única pergunta que a atormentava era: "Ora, se não isso, por que ser tão plena desse sentimento?"
Mas Alice se cansou, até mesmo, de ouvir respostas. Alice se cansou de perguntar. Sua voz, já rouca, cansou de implorar.
E quando se deu por vencida, olhou para os lados e viu, finalmente, que não era tão ruim assim...
Amor, talvez, não tivesse mais, não teria mais, mas Alice se descobriu mulher. Mulher desejada, mulher querida. E ali, presa, Alice pediu, gentilmente, a chave ao carcereiro e saiu por uns instantes para ser feliz. Uma última e primeira vez.
Alice vislumbrou, então, um mundo colorido, do qual tinha medo, mas que era tão bonito, apesar de assustador, que se entregar era, ainda, dúvida. Mas a dúvida se dissipava, o temor, e ela estava prestes a se jogar em uma aventura que a libertaria de tudo o que achava incorreto e estranho.
Alice deu meia volta, retornou a cela, mas com a chave na mão. Primeiro se libertaria do sofrimento; depois se jogaria na felicidade, que estava ali, de braços abertos, esperando por ela.
A última refeição do sofrimento; o primeiro banquete de uma nova vida.
Uma coisa de cada vez.
E Alice havia aprendido a esperar, calma, vigorosamente.
Mas já dando pulos!
A vida não é ruim não, Alice...
Coma, beba, escute e então...
Viva Alice!
Viva!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O silêncio das horas

Tic, tac, tic, tac...
5...4...3...2...1...
A areia se esvaindo...
Vai, vai, vai, não vou...


O tempo se acabando.


"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do seu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo..."




Calma Alice...
Tempo é Deus.

domingo, 24 de abril de 2011

Alice e seu amor

"Cá estou para uma guerra inesperada
e dificil: lutar contra o meu amor,
o amor que eu sinto.
Puta que pariu!
Civil, despreparada
e desprovida de armas, pareço perder
de cara a empreitada.
Levanto da primeira derrubada
e o bicho já me golpeia certo no
diapasão; justamente o afinador dos fracos,
a bússola sonora
dos instrumentos de canção.
Me emudece, me desafina
ceifa rente meu braço de poema, e,
manca dele, procuro ainda alguma proteção.
Mais um golpe, estou no chão.
O amor caçoa então: quer morrer, danada, não vai lutar não?
Com o bico da chuteira da mágoa
desfiro-lhe dois golpes seguidos no queixo.
O amor ri: não doeu, nem senti!
Irada, engancho minhas pernas em seu
pescoço, tento as tesouras imobilizantes
que copiei das lutas da televisão.
(Que nunca gostei, será que prestei a devida atenção?)
O amor interpreta mal...
Ah, quer me seduzir? Enforcar, que é bom, não?
Eu nada falava, torcia pernas, me esgotava,
fremindo-lhe a cabeça entre as coxas.
Isto pra mim é trepada, boba!
Eu gosto do aperto, do cheiro da roxa
e de te ver roxa.
E gargalhava.
Cansada, humilhada e sem
munição, desmaio e me entrego:
pode me matar, amor
eu estou na sua mão.
O amor me olha de cima então:
querida minha, eis o segredo da esfinge
eis o problema diante da solução:
matar-te é matar-me
e matar-me é matar-te.

Se no chão do amor estava,
nesse chão continuei então.
Deitada sob o amor,
debaixo do amor,
no ringue do amor,
o amor me beijou,
me beijou, me beijou."


Elisa Lucinda

terça-feira, 19 de abril de 2011

Doa-se uma Alice

Alice está numa fase de dar:
Dar amor, carinho, palavras amigas, sexo...
Alice não está se importando em receber. Aliás, Alice está achando isso o máximo!
As vezes, Alice vacila, afinal, receber, nem que seja um olhar, de reciprocidade, ajuda. Mas no momento seguinte em que Alice recebe esse olhar de gratidão de volta, ela se esquece de tudo...
Seja por simplesmente ouvir os problemas da melhor amiga e no dia seguinte, logo na primeira hora, mandar um msg dizendo que a ama... seja oferecendo chá aquela que sempre fora,em sua opinião, intragável, e que agora se mostrava humana... seja no momento exato do clímax em que olha nos olhos do seu e descobre ali, seu Paraíso... e mais: descobre que ali também reside o Paraíso particular dele... Alice vem descobrindo que palavras não importam quando se faz amor por telepatia... sim, é clichê, mas é verdade!
Alice não quer explicações, não mais, não tantas. Alice quer cada vez menos. Alice quer se dar. Se dar de um modo pleno, daquele jeito que ela sempre quis e que por convenções, evitava.
Alice amadurece. A duras penas, mas antes tarde.
Aproveitem a fase pragmática de Alice! Afinal, nem todos os dias são de sol... há o inferno astral, como diria alguém especial.
Você precisa de algo?
Doa-se uma Alice!