quarta-feira, 27 de abril de 2011

O silêncio das horas

Tic, tac, tic, tac...
5...4...3...2...1...
A areia se esvaindo...
Vai, vai, vai, não vou...


O tempo se acabando.


"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do seu filho
Tempo, tempo, tempo, tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo, tempo, tempo, tempo..."




Calma Alice...
Tempo é Deus.

domingo, 24 de abril de 2011

Alice e seu amor

"Cá estou para uma guerra inesperada
e dificil: lutar contra o meu amor,
o amor que eu sinto.
Puta que pariu!
Civil, despreparada
e desprovida de armas, pareço perder
de cara a empreitada.
Levanto da primeira derrubada
e o bicho já me golpeia certo no
diapasão; justamente o afinador dos fracos,
a bússola sonora
dos instrumentos de canção.
Me emudece, me desafina
ceifa rente meu braço de poema, e,
manca dele, procuro ainda alguma proteção.
Mais um golpe, estou no chão.
O amor caçoa então: quer morrer, danada, não vai lutar não?
Com o bico da chuteira da mágoa
desfiro-lhe dois golpes seguidos no queixo.
O amor ri: não doeu, nem senti!
Irada, engancho minhas pernas em seu
pescoço, tento as tesouras imobilizantes
que copiei das lutas da televisão.
(Que nunca gostei, será que prestei a devida atenção?)
O amor interpreta mal...
Ah, quer me seduzir? Enforcar, que é bom, não?
Eu nada falava, torcia pernas, me esgotava,
fremindo-lhe a cabeça entre as coxas.
Isto pra mim é trepada, boba!
Eu gosto do aperto, do cheiro da roxa
e de te ver roxa.
E gargalhava.
Cansada, humilhada e sem
munição, desmaio e me entrego:
pode me matar, amor
eu estou na sua mão.
O amor me olha de cima então:
querida minha, eis o segredo da esfinge
eis o problema diante da solução:
matar-te é matar-me
e matar-me é matar-te.

Se no chão do amor estava,
nesse chão continuei então.
Deitada sob o amor,
debaixo do amor,
no ringue do amor,
o amor me beijou,
me beijou, me beijou."


Elisa Lucinda

terça-feira, 19 de abril de 2011

Doa-se uma Alice

Alice está numa fase de dar:
Dar amor, carinho, palavras amigas, sexo...
Alice não está se importando em receber. Aliás, Alice está achando isso o máximo!
As vezes, Alice vacila, afinal, receber, nem que seja um olhar, de reciprocidade, ajuda. Mas no momento seguinte em que Alice recebe esse olhar de gratidão de volta, ela se esquece de tudo...
Seja por simplesmente ouvir os problemas da melhor amiga e no dia seguinte, logo na primeira hora, mandar um msg dizendo que a ama... seja oferecendo chá aquela que sempre fora,em sua opinião, intragável, e que agora se mostrava humana... seja no momento exato do clímax em que olha nos olhos do seu e descobre ali, seu Paraíso... e mais: descobre que ali também reside o Paraíso particular dele... Alice vem descobrindo que palavras não importam quando se faz amor por telepatia... sim, é clichê, mas é verdade!
Alice não quer explicações, não mais, não tantas. Alice quer cada vez menos. Alice quer se dar. Se dar de um modo pleno, daquele jeito que ela sempre quis e que por convenções, evitava.
Alice amadurece. A duras penas, mas antes tarde.
Aproveitem a fase pragmática de Alice! Afinal, nem todos os dias são de sol... há o inferno astral, como diria alguém especial.
Você precisa de algo?
Doa-se uma Alice!

domingo, 17 de abril de 2011

Internaliza, Alice.

"(...)E nem todo sexo bom é para namorar.
Nem toda pessoa que te convida para sair é para casar.
Nem todo beijo é para romancear.
Nem todo sexo bom é para descartar. Ou se apaixonar. Ou se culpar.
Enfim... Quem disse que ser adulto é fácil?"

Arnaldo Jabor


By, uma amiga virtual, há horas atrás.

sábado, 16 de abril de 2011

A voz que conversa com Alice

Em noites assim, Alice gostaria de ser tresloucada.
Mas Alice é apenas louca, o tres fica por conta de sua fértil imaginação...
Então, nessas horas, Alice conversa comigo. Eu sou a voz da consciência de Alice... e dependendo da situação isso pode ser bom ou mal.
Quando quero que Alice aprenda algo, dou a Alice imagens boas... mas quando quero encucar Alice... nossa! Nisso eu sou perfeito!

Hoje, era um dia especial: eu queria mesmo deixar Alice pirada... estou colocando nessa tarefa todos os esforços de anos de prática... eu sei sabotar Alice!
E as vezes (na grande maioria) Alice se sabota sozinha mesmo. Mas não faço isso por mau, faço porque gosto dela e Alice merece o melhor.

Mas hoje Alice me surpreendeu. Pela primeira vez nesse tempo todo Alice estava impassível, quase tranquila. Alice, pela primeira vez, se concientizava de que nem tudo era perfeito, e as vezes as coisas não ocorrem como gostaria.

Hoje Alice não se sabotou, não se martirizou. Alice foi ao quarto se olhou no espelho e disse pra mim:

"Lembra de quando eu vaguei muito tempo por uma escuridão sem fim? Não? Pois eu sim. De cada detalhe, D. Voz. E naquela época eu achava mais fácil chorar do que sorrir, lamuriar do que agradecer. Sabe o que eu aprendi, D. Voz? Que quanto mais eu me afundo, mais eu me levo junto. Hoje não, D. Voz. Hoje eu serei a Alice que aprendi a ser... passe fora e me deixe dormir!"

Eu, calada, me mantive muda. Fui embora.

E pela primeira vez, em muito tempo tive um orgulho danado de Alice.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Um pontinho, somente.

Ah Alice!
Tu que ficas tão contente
Com uma resposta tão boba...

Ah Alice...


"...viver ta me deixando louca
não sei mais do que sou capaz
gritando pra não ficar louca
em guerra lutando por paz
muito pra mim é tão pouco
e pouco eu não quero mais..."

"..."

"Teu corpo
teu cheiro
teu desassossego
Teus olhos
e tua boca
Tua pele
Tua vida
Minha vida

Tu me queres
Eu te quero


Porque então?"

Alice?

Não, Alice não é tão boa assim.
Depois de toda história de amor contada, podem pensar: Alice idiota!
Tsc, tsc! Jamais!
Alice gosta de aventura. Alice toparia todas as aventuras loucas do mundo...
O problema é que Alice se perdeu na mesmice do dia a dia.
Não havia mais por do sol, não havia mais chá, não havia mais baralho...
Havia o nascer do sol, a televisão e a noite...
Alice gostava de se expressar sabe? E fazia isso muito bem! Tinha um talento único, era prestigiada e elogiada, mas nem isso afastou a rotina.
Ah Alice! Será que se você entrar na árvore e ir atrás do coelho, o mundo mágico irá se descortinar de novo aos seus olhos?
Será, Alice, que você aprendeu?
Será, Alice, que você mudaria?
Sim, Alice mudaria. Mudaria porque no fundo Alice é ousada. O que falta é o jeito certo de abrir a porta do armário... Não é qualquer chave que abre. A chave que abre é aquela, aquela mágica.
E a magia? A magia já aconteceu, Alice já pegou a chave, e agora Alice vai abrir a porta...
Tchau Alice!
Tchau mesmice!
Olá Alice!
Alice?

Alice gosta de música...

Alice gosta dele:

"Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz"

Conselho de Alice

"Ninguém jamais conquistou alguma coisa com lágrimas!"

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O conto das duas almas

Toda história de contos de fadas começa com "Era uma vez...". Assim ensinamos aos nossos filhos e as gerações que se sucedem, a começar a descrever fantasias com essa frase. O que vou contar a seguir é um conto de fadas as avessas.



"Era uma vez uma tarde.
Uma tarde comum: sol, vento, céu azul. Mas era dia de festa. E Alice estava feliz. Iria comemorar com amigos queridos mais uma primavera de outro amigo muito querido também. A melhor amiga de Alice, Juliana, também estava animada: as homenagens seriam para seu amor, Felipe. Mas existia mais um motivo para a alegria de Alice: conheceria finalmente o rosto do seu amor. Seu amor era amigo de Juliana e a amiga sempre lhe falava dele: que se pareciam, que com certeza se entenderiam. E Alice estava curiosa, sabe? Chegou ao local da festa e se sentou em uma das salas. E de repente, ele, seu príncipe, entra carregando um alaúde. Se olharam, e se olharam. E sem saber quem eram, se reconheceram. Porque grandes amores são assim: a primeira vista. Paixões avassaladoras não provocam a sensação de reconhecimento mútuo. É uma espécie de dejà vu; como se em outras vidas tivessem vivido esse amor e agora, nesta, teriam mais essa oporunidade. E eles, naquele momento, souberam que seriam um do outro, para sempre. Ela olhou e disse: "Olá príncipe, sou Alice." E ele disse: "Eu sei." Sem nunca terem se olhado, se viram.
Mas o príncipe não estava só. Havia uma plebéia com ele. Alice não se importou: o que tinha que acontecer já havia se concretizado.
Tempos depois daquele dia, o príncipe finalmente tomou coragem e lhe pediu em namoro. E ali, naquela noite, sentados à porta da casa de Alice, juraram amor eterno. Alice se entregou, e não só ela, mas o príncipe também. Ele que já havia vencido tantas batalhas e derrotado tantos inimigos; ele que já havia gostado antes, mas nunca amado. Alice ensinou o príncipe a amar. O príncipe ensinou Alice a viver. Tudo do que ela tinha medo foi deixado para trás. Os dias eram repletos de por do sol, alaúde e paixão. Sim! Na alma de guerreiro do príncipe morava um artista. E assim, cheios de beijos e carícias se uniram. Noivaram no Castelo Sagrado, convocaram as famílias. Mas bem, essa não é uma história de amor de contos de fadas, ou vocês pensaram que seria? Por serem tão diferentes_Alice sonhadora, o príncipe racional_ um dia se desentenderam e resolveram acabar com o compromisso. Alice então, foi embora e o príncipe ficou em seu castelo. Meses se passaram e eles perceberam que jamais poderiam ser felizes separados. Cartas de amor, pombos correio com mensagens lindas abrilhantaram suas vidas novamente. O príncipe correu atrás do seu amor, tomou-a em seus braços e se casaram. Felizes, resolveram ter um filho. Que poderia também ser uma filha, não importava. E o milagre se fez: dois anos depois, nasceu um lindo varão para deixar a vida dos dois mais feliz ainda.
Um dia, Alice e o príncipe perceberam que, ao invés de matar os problemas do passado, apenas haviam varrido os mesmos para debaixo do tapete. Ela não havia mudado tanto quanto gostaria; ele havia mudado muito. E, novamente se separaram. Dessa vez, por um período um pouco mais longo. E até chegaram a pensar que, daquela vez, seria para sempre. O príncipe, que já havia na verdade se tornado rei, vivenciou outras tantas batalhas. Alice travou suas lutas internas e separados, renasceram. E quando tudo parecia perdido, se olharam novamente. E se amaram novamente. E tanto que mal conseguiam perceber que haviam outros a seu redor. E juraram novamente amor. Mas dessa vez foi diferente: estavam mais maduros, construíram um castelo para eles, e tiveram uma princesa. Mais anos de amor, de juras... Mais anos de junção, de comunhão...
E opa! Novamente se desencontraram... no meio das mentiras, das mágoas e das incertezas da vida. Alice já não era mais criança; o rei queria voltar a ser. Alice amava profundamente o rei, e ele a amava mais ainda: do jeito dele, mas mais do que jamais amou ou amaria outra. O problema é que queriam coisas diferentes e assim, se perdiam.
Mas essa história não é um conto de fadas comum. E há de se perguntar: porque então, com tantas falhas, com tantas desavenças, o rei e Alice ainda estavam juntos? Seria assim pra sempre?
Desculpem. Eu esqueci de dizer que essa história não tem "ainda" um final feliz. Pelo menos não como o que talvez Alice, o rei e todos, esperem.
Outros, depois de ler o conto acima, dirão: "Isso é pra sempre. Eles jamais vão se separar."
Talvez sim, talvez não.
A única coisa que é certa nessa história é que, os anos passaram, vidas passarão, pessoas passarão... mas Alice e o rei no fundo, bem no fundo sabem que nunca, nem que se passem mil eternidades, vai se apagar aquele momento: o instante em que se olharam pela primeira vez e sabiam que seria pra sempre. E o pra sempre não é feito só de alegrias. O pra sempre é feito de incertezas...
Alice, o rei, seus filhos. Uma história. Duas almas.
Gêmeas.
Siamesas.
Os outros não sabem, mas eles sabem."


FIM



ou não?