quinta-feira, 14 de abril de 2011

O conto das duas almas

Toda história de contos de fadas começa com "Era uma vez...". Assim ensinamos aos nossos filhos e as gerações que se sucedem, a começar a descrever fantasias com essa frase. O que vou contar a seguir é um conto de fadas as avessas.



"Era uma vez uma tarde.
Uma tarde comum: sol, vento, céu azul. Mas era dia de festa. E Alice estava feliz. Iria comemorar com amigos queridos mais uma primavera de outro amigo muito querido também. A melhor amiga de Alice, Juliana, também estava animada: as homenagens seriam para seu amor, Felipe. Mas existia mais um motivo para a alegria de Alice: conheceria finalmente o rosto do seu amor. Seu amor era amigo de Juliana e a amiga sempre lhe falava dele: que se pareciam, que com certeza se entenderiam. E Alice estava curiosa, sabe? Chegou ao local da festa e se sentou em uma das salas. E de repente, ele, seu príncipe, entra carregando um alaúde. Se olharam, e se olharam. E sem saber quem eram, se reconheceram. Porque grandes amores são assim: a primeira vista. Paixões avassaladoras não provocam a sensação de reconhecimento mútuo. É uma espécie de dejà vu; como se em outras vidas tivessem vivido esse amor e agora, nesta, teriam mais essa oporunidade. E eles, naquele momento, souberam que seriam um do outro, para sempre. Ela olhou e disse: "Olá príncipe, sou Alice." E ele disse: "Eu sei." Sem nunca terem se olhado, se viram.
Mas o príncipe não estava só. Havia uma plebéia com ele. Alice não se importou: o que tinha que acontecer já havia se concretizado.
Tempos depois daquele dia, o príncipe finalmente tomou coragem e lhe pediu em namoro. E ali, naquela noite, sentados à porta da casa de Alice, juraram amor eterno. Alice se entregou, e não só ela, mas o príncipe também. Ele que já havia vencido tantas batalhas e derrotado tantos inimigos; ele que já havia gostado antes, mas nunca amado. Alice ensinou o príncipe a amar. O príncipe ensinou Alice a viver. Tudo do que ela tinha medo foi deixado para trás. Os dias eram repletos de por do sol, alaúde e paixão. Sim! Na alma de guerreiro do príncipe morava um artista. E assim, cheios de beijos e carícias se uniram. Noivaram no Castelo Sagrado, convocaram as famílias. Mas bem, essa não é uma história de amor de contos de fadas, ou vocês pensaram que seria? Por serem tão diferentes_Alice sonhadora, o príncipe racional_ um dia se desentenderam e resolveram acabar com o compromisso. Alice então, foi embora e o príncipe ficou em seu castelo. Meses se passaram e eles perceberam que jamais poderiam ser felizes separados. Cartas de amor, pombos correio com mensagens lindas abrilhantaram suas vidas novamente. O príncipe correu atrás do seu amor, tomou-a em seus braços e se casaram. Felizes, resolveram ter um filho. Que poderia também ser uma filha, não importava. E o milagre se fez: dois anos depois, nasceu um lindo varão para deixar a vida dos dois mais feliz ainda.
Um dia, Alice e o príncipe perceberam que, ao invés de matar os problemas do passado, apenas haviam varrido os mesmos para debaixo do tapete. Ela não havia mudado tanto quanto gostaria; ele havia mudado muito. E, novamente se separaram. Dessa vez, por um período um pouco mais longo. E até chegaram a pensar que, daquela vez, seria para sempre. O príncipe, que já havia na verdade se tornado rei, vivenciou outras tantas batalhas. Alice travou suas lutas internas e separados, renasceram. E quando tudo parecia perdido, se olharam novamente. E se amaram novamente. E tanto que mal conseguiam perceber que haviam outros a seu redor. E juraram novamente amor. Mas dessa vez foi diferente: estavam mais maduros, construíram um castelo para eles, e tiveram uma princesa. Mais anos de amor, de juras... Mais anos de junção, de comunhão...
E opa! Novamente se desencontraram... no meio das mentiras, das mágoas e das incertezas da vida. Alice já não era mais criança; o rei queria voltar a ser. Alice amava profundamente o rei, e ele a amava mais ainda: do jeito dele, mas mais do que jamais amou ou amaria outra. O problema é que queriam coisas diferentes e assim, se perdiam.
Mas essa história não é um conto de fadas comum. E há de se perguntar: porque então, com tantas falhas, com tantas desavenças, o rei e Alice ainda estavam juntos? Seria assim pra sempre?
Desculpem. Eu esqueci de dizer que essa história não tem "ainda" um final feliz. Pelo menos não como o que talvez Alice, o rei e todos, esperem.
Outros, depois de ler o conto acima, dirão: "Isso é pra sempre. Eles jamais vão se separar."
Talvez sim, talvez não.
A única coisa que é certa nessa história é que, os anos passaram, vidas passarão, pessoas passarão... mas Alice e o rei no fundo, bem no fundo sabem que nunca, nem que se passem mil eternidades, vai se apagar aquele momento: o instante em que se olharam pela primeira vez e sabiam que seria pra sempre. E o pra sempre não é feito só de alegrias. O pra sempre é feito de incertezas...
Alice, o rei, seus filhos. Uma história. Duas almas.
Gêmeas.
Siamesas.
Os outros não sabem, mas eles sabem."


FIM



ou não?



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